quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Bilionários de passagem pelo futebol


O jornal espanhol Marca divulgou esta semana uma lista dos maiores salários do futebol. O que chama mais atenção é que a maior parte dos jogadores presentes no ranking pertence a clubes de multimilionários, que estão estourando os patamares do bom senso no futebol.

O primeiro da lista é o camaronês Samuel Eto´o, do Anzhi, da Rússia, que ganha 20 milhões de euros por temporada. Na vice-liderança aparece o sueco Zlatan Ibrahimović, recém-contratado pelo Paris Saint-Germain, que recebe 14,5 milhões de euros por ano. A lista continua com Rooney (Manchester United), Yaya Touré e Sergio Agüero (Manchester City), Didier Drogba (Shanghai Shenhua), Fernando Torres (Chelsea) e Dario Conca (Guangzhou Evergrande).

Só depois, em nono e décimo lugares respectivamente, aparecem Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, considerados por muitos especialistas como os melhores jogadores do mundo, e que atuam em clubes que não foram vendidos para o capital privado. Pelo menos ainda não. O Barcelona, aliás, teve que vender o espaço na camisa pela primeira vez na sua história para tentar competir com os clubes "turbinados economicamente".

Não é coincidência. Da lista dos dez primeiros, apenas dois jogadores estão em clubes que não são controlados por bilionários. Fazendo um pouco de esforço, podemos até reconhecer que são três clubes, já que o Manchester United é controlado pela família Glazer, mas os mandatários não costumam despejar caminhões de dinheiro em uma contratação a cada temporada.

Roman Abramovich, o bilionário mais famoso no mundo do futebol,
comprou o Chelsea em 2003 (Foto: Michael Regan/Getty Images)

Até o conceito de clube-empresa está distorcido no cenário do futebol atual. De acordo com a definição de André Megale, mestre em administração e direito desportivo e colaborador do site Universidade do Futebol, “clube-empresa é uma forma de organização das entidades de prática desportiva (clubes) na forma de sociedades empresárias com finalidade lucrativa”. Ou seja, com tantos gastos e pouco retorno financeiro, a última coisa que os donos desses clubes visam é o lucro (do próprio clube). Em primeiro lugar vem o lucro dos seus negócios.

Ou alguém pensa que Roman Abramovich irá recuperar para os cofres do Chelsea os 871 milhões de euros (cerca de 2,2 bilhões de reais) que gastou até hoje para reforçar o clube londrino desde que o adquiriu no ano de 2003? Nesses nove anos, o russo só acumulou prejuízo em busca do título da Liga dos Campeões da Europa, que chegou para os Blues apenas na última temporada.

Como esses multimilionários possuem vários negócios, é certo que, quando começarem a perceber que o futebol não está mais dando lucro para seus interesses, largarão o clube e o deixarão à beira da falência. Afinal, para essas pessoas, o clube de futebol é apenas mais um de seus "brinquedinhos" e quando a graça acabar eles vão embora atrás de outros tipos de lucro.

Biografia dos donos dos clubes que pagam os maiores salários do futebol:

Manchester City - Mansour bin Zayed bin Sultan Al Nahyan, ou simplesmente Sheik Mansour. Tem 39 anos, é o ministro de Negócios Presidenciais dos Emirados Árabes Unidos e membro da família real de Abu Dhabi. As transações do clube são feitas através da Abu Dhabi United Group, empresa registrada nos Emiratos Árabes. De acordo com a revista Forbes, o Sheik Mansour está entre os 20 mais jovens bilionários do mundo e sua fortuna é estimada em US$ 4,9 bilhões.

Anzhi - Suleiman Kerimov, 46 anos, é um empresário russo que lidera o grupo petrolífero Nafta Moscou e a produtora de potássio Silvinit. Além disso, ele possui investimentos em telecomunicações, minas e hotéis. Segundo o ranking atualizado da revista Forbes, o dono do Anzhi é o 146º homem mais rico do mundo, com uma fortuna avaliada em aproximadamente US$ 6,5 bilhões.

Paris Saint-Germain - Nasser Ghanim Al-Khelaifi, 38 anos, nasceu no Catar e é presidente da empresa Qatar Sports Investiments que adquiriu 70% das ações do PSG. Ex-tenista, Al-Khelaifi é ainda presidente da emissora de TV Al Jazeera Sports - pertencente à Rede Al Jazeera, a maior TV jornalística do Catar - que comprou os direitos de transmissão do Campeonato Francês até 2016. Ou seja, trata-se de uma forma indireta de injetar mais dinheiro no PSG e driblar o fair-play financeiro que será implantado na Europa nesta temporada em caráter experimental.

Shanghai Shenhua - Zhu Jun, 45 anos, é o fundador e diretor executivo da The9 Limited - uma das maiores empresas chinesas de jogos online - e detém 28,5% do Shanghai Shenhua, o que lhe dá o status de sócio-majoritário do clube. A porcentagem restante é dividida entre cinco empresas estatais da China.

Chelsea - Roman Abramovich, 45 anos, é um magnata russo que possui investimentos em petróleo, alumínio, e nos setores aéreo, automobilístico, energético, elétrico, farmacêutico e de seguros no Reino Unido e na Rússia. Ocupa a 68° posição no ranking das pessoas mais ricas do planeta, segundo a revista Forbes, com US$ 12,1 bilhões.

Guangzhou Evergrande - Liu Yongzhuo, 32 anos, vice-presidente da Evergrande Real State Group, empresa de investimentos nos ramos imobiliário e da construção civil que controla o clube e tem como dono o magnata Xu Jiayin, um dos empresários mais ricos da China, com uma fortuna estimada em US$ 6,52 bilhões.

Manchester United - Malcolm Glazer, 84 anos, empresário e também dono do Tamp Bay Buccaneers, equipe de futebol americano. É dono da First Allied Corporation, uma holding que atua no investimento imobiliário, e tem participação em empresas de energia, alimentação, gás natural, petróleo, saúde e meios de comunicação. Glazer adquiriu 100% do capital do clube através da Red Football Limited Partnership e da Red Football General Partner Inc., empresas registradas no estado de Nevada (EUA), que se beneficia dos baixos impostos. O multimilionário norte-americano é o 442º homem mais rico do mundo, segundo a Revista Forbes, com uma fortuna avaliada em US$ 2,7 bilhões.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Zenit com o Gás total


Esta semana, o clube russo Zenit desembolsou 60 milhões de euros (cerca de 153 milhões de reais) para contar com os gols do brasileiro Hulk, ex-Porto. Assim, o atacante passa a ser o quinto jogador mais caro da história, empatado com o português Luis Figo, que foi contratado pela mesma quantia pelo Real Madrid, em 2000. Não contente, o Zenit gastou mais 40 milhões de euros (cerca de 102 milhões de reais) para contratar Axel Witsel, meio-campo belga que estava no Benfica. Mas será que eles valem tudo isso? Claro que não. Ambos são bons jogadores. Nada mais que isso.

O problema é que, nos últimos anos, alguns clubes de futebol vêm gastando valores estratosféricos tendo como apoio grandes empresas e/ou multimilionários que adoram “brincar de gastar dinheiro”, seja para dar maior visibilidade à marca da corporação ou para fins desconhecidos que não me cabe julgar aqui.

Mas de onde vem tanto dinheiro para as contratações do Zenit? Resposta: Gazprom, a maior exportadora de gás natural do mundo, o que faz o clube de São Petersburgo ser o mais rico da Rússia. A Gazprom pertence ao governo russo e patrocina a Seleção Russa, além de clubes de outros países, como Chelsea, Schalke 04 e Estrela Vermelha. A injeção de dinheiro acontece também em outros esportes, como a equipe de hóquei Avangard Omsk e a equipe de ciclismo Katusha, ambos da Rússia.

Na atual temporada, o orçamento do Zenit é de 126 milhões de euros - receita comparada a grandes clubes europeus -, sendo que grande parte provém do patrocínio da Gazprom. Segundo os responsáveis da empresa, a estratégia da companhia é usar o esporte para ter uma maior divulgação da marca no mundo.

A explicação para uma empresa do governo investir apenas no Zenit, dentre os vários clubes que existem no país, é simples: a equipe de São Petersburgo tem como torcedores ilustres o presidente Vladimir Putin e o primeiro-ministro Dmítri Medvedev, que também é presidente do conselho fiscal da Gazprom. Assim fica fácil. O problema é que o dinheiro não está sendo bem aplicado. Gastar cerca de 150 milhões de reais com o Hulk não me parece uma boa escolha.