sexta-feira, 30 de março de 2012

Campanha do Democrata-GV poderá ser a pior dos últimos 7 anos

Foto: divulgação/site Democrata-GV

No Campeonato Mineiro deste ano ficou escancarado o abismo que separa Atlético, Cruzeiro e América dos outros times. Mesmo após a derrota do Coelho para o Tupi, o time de Givanildo Oliveira ainda é muito superior às equipes do interior do estado. Assim como o triunfo do Guarani, de Divinópolis, sobre o Cruzeiro, em jogo antecipado da segunda rodada, também foi por acaso.

Os times do interior enfrentam os da capital, principalmente Atlético e Cruzeiro, contentando-se apenas em se defender. A partida se transforma em um mero treino de ataque contra defesa. Desta forma, a campanha ao longo da primeira fase fica abaixo das desenvolvidas nos últimos anos.

Olhando para a parte de baixo da tabela encontramos o Democrata-GV com apenas 1 ponto em oito rodadas. Apenas o Guarani, de Divinópolis, foi capaz de se aproximar de uma campanha tão desastrosa como a deste ano da Pantera.

Em 2009, o Bugre foi rebaixado sem vencer uma partida sequer no Campeonato Mineiro. Naquele ano, na oitava rodada, o Guarani também estava com 1 pontinho. Porém, o time de Divinópolis conseguiu mais dois empates nas duas últimas rodadas e terminou o campeonato com 3 pontos.

Por isso, caso não some mais dois pontos nas próximas três rodadas, o Democrata-GV pode terminar a primeira fase do Mineiro como a pior campanha desde a edição de 2005, quando foi implantado o novo regulamento com 12 equipes.

Em termos de comparação, a campanha do Democrata-GV é tão preocupante que no Estadual de 2011, Ipatinga e Funorte foram rebaixados com 7 e 5 pontos, respectivamente, e ambos conseguiram obter uma vitória. Na oitava rodada, o Tigre não havia vencido ainda, mas já estava com 4 pontos. Já o Funorte, chegou a vencer um jogo (justamente na 8ª rodada) e estava com 5 pontos.

No Mineiro de 2010, Uberlândia e Ituiutaba foram rebaixados com 5 pontos e venceram pelo menos uma partida antes de completar a oitava rodada, onde ambos já se encontravam na lanterna, porém com 4 pontos. Uma campanha quatro vezes melhor do que a do Democrata-GV neste ano.

Campanha inferior também para se classificar em quarto lugar

A fraca campanha das equipes do interior de Minas também se reflete na parte de cima da tabela. Antes da vitória sobre o América, na última quarta-feira, o Tupi, quarto colocado, estava com 54% de aproveitamento. Hoje, a equipe de Juiz de Fora subiu para 59,26%. Mesmo assim está abaixo da média dos últimos dois anos, quando o quarto lugar se classificou com 63,64% de aproveitamento.

No Mineiro de 2010, se classificavam oito equipes, mas o Tupi terminou a primeira fase em quarto lugar com 21 pontos. No ano passado, foi a vez do América-TO se classificar para a semifinal como o quarto colocado, também com 21 pontos.

Faltando apenas duas partidas para terminar a primeira fase para o Tupi, a equipe tem 16 pontos e poderá chegar a 22 pontos, superando a marca do quarto colocado dos campeonatos passados. Porém, o Galo de Juiz de Fora ainda terá de enfrentar o Atlético na última rodada, o que dificultará bastante para que o time supere os 21 pontos.

sábado, 24 de março de 2012

Recordes: como não buscar superá-los?

Por Leonardo Diniz*

A terça-feira, 20 de março de 2012, está e estará marcada em todas as publicações que se referirem à história do futebol mundial. Nessa data, no mítico estádio Camp Nou, reduto do orgulho catalão, um rosarino trouxe ainda mais motivos para os ‘culés’ sentirem que estão dividindo com ele um momento mágico.

Na vitória por 5 a 3 do Barcelona sobre o Granada, pela 29ª rodada do Campeonato Espanhol, o atacante de 24 anos anotou três tentos e ultrapassou a lendária marca de 232 gols feitos em jogos oficiais por César Rodriguez. A revisão dos arquivos realizada pelo centro de documentação do clube espanhol descobriu recentemente que a conta anterior que atribuía 235 gols ao ex-jogador estava errada e, com a correção no número, acelerou o caminho a ser percorrido pelo argentino para chegar à marca.

De acordo com o jornalista Paulo Calçade, comentarista da emissora ESPN Brasil, durante o programa Linha de Passe Mesa Redonda da última segunda-feira (19/03), os dados anteriormente utilizados eram baseados no jornal catalão La Vanguardia, veículo de comunicação existente desde 1881.

Independentemente de quaisquer maneiras que se utilizem para apurar a artilharia dos ‘blaugranas’, a constatação de que seu atual camisa 10 demolirá recorde por recorde é bastante real. A velocidade que o habilidoso avante imprimiu para superar em oito anos no time principal do Barça é algo inimaginável, considerando-se que o antigo detentor da artilharia em jogos oficiais havia levado 16 anos para concretizá-la.

O telespectador que acompanha as partidas e as entrevistas do eleito três vezes melhor jogador do mundo percebe em suas falas uma tranquilidade impressionante. O argentino não transparece nenhuma ansiedade em alcançar os números em que a imprensa e seus seguidores ficam atentos nas reportagens diariamente. Parece que, para ele, é normal que eles sejam ultrapassados da forma mais natural possível, como se soubesse quando e como isso acontecerá.

Números

A partir da assunção do primeiro lugar nessa estatística, a busca e os olhares estarão para uma outra contagem: a do número de gols marcados em jogos oficiais e amistosos. Atualmente, de acordo com o sítio OleOle, encabeça essa lista Paulino Alcântara, com 356 tentos assinalados, seguido por Josef Samitier, com 319, César Rodríguez, com 301, e Ladislao Kubala, com 270. E, em seguida, temos o novo capitão de sua seleção, que, com os seis gols anotados pelo Barcelona B, tem 240, vinte a mais do que o sexto colocado, Josep Escola.

No entanto, para o blog La Pelota No Dobla, o atacante número um em estufar as redes com a camisa barcelonista teria alcançado os 369 gols em 357 partidas, durante seus 15 anos de carreira no clube catalão, de 1912 a 1927.

Ainda segundo este endereço eletrônico, o atual camisa 10 teria completado 315 partidas ostentado o manto da equipe catalã e estaria rumando para a inclusão entre os dez que mais atuaram com ela. A liderança é do companheiro de equipe do argentino, o meia Xavi Hernández, que, em 15 anos jogando na equipe B e na principal dos ‘culés’, soma 676 partidas disputadas, já bem à frente dos 548 jogos de Migueli.

Para entrar no seleto clube, o rosarino mira, ainda que não se ouça uma palavra a seu respeito, os 400 jogos de Alexanco, nono colocado nesse ranking. E ele não se manifesta sobre isso precisamente porque seu objetivo é atuar o máximo possível em cada partida para desfilar sua magia que encanta a todo o mundo, ainda que se pondere inúmeras vezes que ele não é desse mundo.

Sem preocupações com recordes

E, dessa forma, continua-se a atuar como um exterminador estatístico e, o mais incrível, sem se preocupar com isso porque, para ele, o que interessa é se divertir com as disputas, como disse certa vez o heptacampeão mundial de Fórmula 1 Michael Schumacher.

Afinal, o que mais poderia pleitear alguém que não necessita provar mais nada em relação ao seu talento? O que deveria esperar um indivíduo que, mesmo em sua modéstia, sabe que se não fizer mais nada de agora em diante ainda assim será lembrado por sua geração e por inúmeras outras que o sucederem?

Foto: Manu Fernández/Associated Press
Bem, resta mesmo tratar o seu jogo como sua atividade mais lúdica em seu Barcelona, que, como diz seu slogan, ‘Mès que un club’ (Mais que um clube, em catalão), e perguntar-se “Recordes: como não superá-los?”. Ah, embora não seja possível alguém que tenha vivido os últimos anos na Terra não saber a quem se referia essa postagem, o nome dele é Lionel Andrés Messi. Guardem esse nome.


* Leonardo é jornalista, responsável pelo blog "Norsk A. Angel e os Conversamentos aleatórios" e colabora para este blog.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Qual sairá primeiro: Lei Geral da Copa ou Arena Independência?


O páreo está duro! A incompetência dos políticos no Brasil está escancarada nesta pergunta, que apenas mostra como a burocracia impera no país, além da falta de comprometimento - e por que não de capacidade - dos nossos políticos quando precisamos deles para realizar alguma obra necessária ou apenas alterar uma lei.

Brigas políticas, oposição versus governo e discordâncias de ideias apenas porque o outro é de partido diferente são outros exemplos do motivo e tanto atraso para a aprovação da Lei Geral da Copa que devia estar votada desde 2009. O atual governo "não se lembrava" do acordo firmado com a Fifa pela gestão anterior referente à questão da bebida alcoólica na Copa. É uma trapalhada atrás da outra.

E o governo ainda achou ruim por ter tomado um puxão de orelha da Fifa, ou melhor, "ter levado um chute no traseiro" para começar a se movimentar. Um barulho imenso no Congresso apenas por causa da bebida nos estádios durante a Copa do Mundo. Será para tanto? Diversas outras coisas importantes para também se preocupar, como as obras de mobilidade urbana e os aeroportos - que parece que vão ficar mesmo  nos "puxadinhos", sem as devidas ampliações e reformas.

Independência

Quanto ao Independência, creio que nem mesmo o Secretário Extraordinário da Copa do Mundo em Minas Gerais, Sérgio Barroso, sabe quantas vezes a inauguração do novo estádio já foi adiada. Prometeram várias datas, mas quando se aproxima do prazo estipulado, alega-se novo atraso sem explicar os motivos. Bom, um dos motivos nós já sabemos: o problema do guarda-corpo instalado indevidamente que prejudica a visão de 6 mil torcedores no estádio, mas que o governo mineiro e a construtora não assumem o erro de jeito nenhum.

Imagem da 'nova' bilheteria do Independência
(foto: Cristiano Trad/Jornal O Tempo)
Sem falar no edital de licitação para a construção da Arena, lembram? Na primeira etapa da obra - orçada inicialmente em pouco mais de R$ 69 milhões - não constavam a grama, as traves, as redes e até os vestiários!! Foi preciso fazer um remendo no projeto – chamado de segunda etapa das obras – e acrescentar mais R$ 50,5 milhões ao orçamento final.

Outro ponto que veio à tona agora sobre a nova Arena, além do novo atraso na entrega do estádio prevista agora para o dia 15 de abril, é referente às bilheterias. Uma matéria do jornalista Felipe Ribeiro, do jornal O Tempo, mostra que elas foram construídas próximas às catracas que dão acesso às arquibancadas. Um absurdo!! Ainda de acordo com a reportagem, para tentar resolver o problema, a BWA, empresa que administra o Independência, estuda alugar as casas ao redor do estádio para servir como pontos de venda. Absurdo número 2!!

Uma Arena maravilhosa, segundo o Governo erguida nos padrões Fifa, mas com dois erros crassos de engenharia. E depois de tudo isso a pergunta ainda fica no ar: qual dos dois sairá primeiro? Lei Geral da Copa ou Arena Independência. A competição está acirrada. Este é o Brasil, o país do futuro, quer dizer do faturo.

*A imagem inicial é uma montagem em cima das fotos do guarda-corpo do Independência e da votação da Lei Geral da Copa (créditos: Ana Paula Moreira/Globo Esporte.com e Fábio Rodrigues/Agência Brasil)

quarta-feira, 21 de março de 2012

O outro lado dos 100% atleticano

Assim como a economia de um país, o desempenho de um time em campo não pode ser analisado pelos números simplesmente. Quando um país está com a economia aquecida – caso do Brasil que cresceu 7,5% em 2010 e apenas 2,7% no ano passado – a demanda por mão de obra aumenta, a renda dos trabalhadores melhora, o consumo dispara e as empresas comemoram o crescimento.

Porém, há o outro lado. Passado a euforia, o consumo é tão grande que leva à inflação: a oferta de produtos fica menor que a procura e os preços sobem para conter a demanda.

Vejo desta forma o Atlético atual. Em todas as oito partidas que venceu na temporada – sete pelo Campeonato Mineiro e uma pela Copa do Brasil –, me falem uma em que o time jogou um bom futebol e passou confiança à torcida. Talvez no jogo contra o Guarani, de Divinópolis, em que goleou por 4 a 0. Mesmo assim, há dúvidas.

No mais, foram muitos altos e baixos dentro das partidas. Vários momentos de lampejo, ou melhor, de bronca do técnico Cuca para a equipe “pegar no tranco” e se inspirar dentro dos confrontos. Assim foi contra o América-TO, Nacional-NS, Villa Nova e até com o Cene-MS, pela Copa do Brasil. Sem falar na dificuldade em bater o América, com gols nos dez minutos finais. Ressaltando-se que o time americano esteve com um jogador a menos desde o final do primeiro tempo.

Prova disso é o fato de os sete confrontos vencidos pelo Atlético no Estadual, quatro deles terem acontecido após sofrer gol do adversário primeiro. Muitas vezes, parece que o time entra em campo pensando que vai marcar a qualquer momento. Já quando abre uma vantagem de dois gols no marcador, acredita estar bom demais e fica tocando a bola na defesa até acabar a partida. Assim aconteceu nos jogos contra o Boa Esporte e Caldense.

Outro fato preocupante é a estagnação na evolução da equipe. Em comparação com o Cruzeiro, que começou perdendo, mas logo mostrou evolução e, inclusive, vem goleando seus últimos adversários, o futebol apresentado até agora pelo Atlético – mesmo mantendo o time base do ano passado – não dá mostras de que o time irá fluir para seguir longe na Copa do Brasil e muito menos no Campeonato Brasileiro.

Não que o Cruzeiro já esteja melhor que o Atlético. Muito pelo contrário. Os dois têm que melhorar e muito para as disputas nacionais. E, neste momento, ficar prendendo-se a números significa iludir a maioria dos torcedores e não enxergar o que realmente vem acontecendo em campo. Não é sempre que o Atlético vai conseguir jogar mal e vencer, como vem acontecendo.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Sem parar 2: Por que não?

Por Leonardo Diniz

A vida é cheia de coincidências e o futebol traz consigo algumas delas. Uma amostra pode ser observada na partida citada na postagem “Sem parar”. Apenas quatro dias após o FC Barcelona golear por 7 a 1 sobre os alemães do Bayer Leverkusen, os bávaros do Bayern de Munique mostrou que aquele placar não era assim tão inatingível e infligiu a mesma pena aos azuis de Hoffenheim.

Talvez fosse desnecessário explicar que o objetivo não é comparar os dois vitoriosos nem afirmar que ambas ocorreram contra adversários com capacidades distintas e por competições com dificuldades também diferentes. Não se discute que, de forma geral, é mais difícil alcançar o feito dos ‘blaugranas’ em fase oitavas-de-final da Uefa Champions League do que fazê-lo pela Bundesliga.

Destaca-se, porém, que, quando uma equipe desenvolve uma mentalidade que ultrapassa o logro do objetivo mínimo da vitória e a célebre soma dos três pontos (pontuação que substituiu os dois pontos concedidos aos exitosos a partir da temporada 1992/1993 de English Premier League), é possível chegar a marcas que agradem seus promotores e o público.

Os comandados de Jupp Heynckes, técnico que se tornou conhecido por levar o Real Madrid ao título europeu e mundial de 1998, poderiam simplesmente ter se contentado com a vitória assegurada sobre seu adversário do último sábado ao fim do primeiro tempo. Após 45 minutos, a equipe de Munique vencia por 5 a 0 e, dado o volume de jogo apresentado até então, qualquer torcedor de ambas as agremiações não poderia imaginar mesmo qualquer volta no marcador.

Mario Gómez marcou quatro vezes na
goleada do Bayern sobre o Basel por 7 a 0
Portanto, não seria surpresa se fossem promovidas alterações, as três permitidas pelo regulamento, a fim de preservar alguns dos atletas para a segunda perna do duelo com os suíços do Basel, agendada para quatro dias depois, na Allianz Arena, em Munique. Mas, aí sim, o que chamou a atenção foi a manutenção das principais estrelas, dentre as quais estão Franck Ribéry, o nome do jogo e autor do sétimo e último gol, e Arjen Robben, que correu durante todo o tempo e ainda foi vítima de inúmeras faltas na segunda etapa. Do trio ofensivo, apenas Mario Gómez foi substituído, em função, no entanto, das dores provocadas por pancada sofrida na primeira etapa.

E tal qual o atual campeão europeu, o Bayern também não tirou o pé na etapa derradeira e partiu para cima dos adversários em busca da ampliação do marcador, que ocorreria antes da metade dessa etapa. O público presente no estádio bávaro teve ainda a oportunidade de rever ótima atuação dos dois pontas da equipe, Ribéry e Robben, na mesma partida e continuar assistindo aos shows de Gómez, que assinalou três tentos naquela tarde.

Alguns poderiam dizer que a suposta sandice de Heynckes poderia comprometer o principal objetivo da temporada, a Champions, afinal sua equipe havia sido derrotada na partida de ida para o líder do Campeonato Suíço por 1 a 0, na Basileia, e precisaria contar com sua força máxima para reverter o resultado desfavorável. A decisão poderia soar ainda mais arriscada, considerando-se que, ainda que o Bayern não tenha feito uma partida ruim no país dos cantões, o adversário foi extremamente eficiente em conter seus ímpetos e o arqueiro do Basel foi impecável na partida.

Pois bem, chegou a partida de volta da competição europeia e, aí sim, mais surpreendente, ‘Super Mario’, alemão de pais espanhóis, comandou a equipe mais vencedora da história do futebol germânico na confirmação do passe às quartas-de-final sem deixar sombras a quaisquer dúvidas. Autor de quatro gols, o que o leva a dez na competição (apenas dois atrás de Lionel Messi e quatro à frente de Cristiano Ronaldo), ele ratificou, mais do que a passagem de fase, que a decisão tomada no fim de semana havia sido a mais correta.

E a corroboração que os atletas deram na concepção de Heynckes de escalar os melhores para disputar tantos jogos forem possíveis é, hoje, mais do que uma simples opção técnica desmedida. Considerando-se os modernos recursos de fisiologia e os laboratórios de biomecânicas existentes e que passam a ser incorporados aos centros de treinamentos dos clubes, há elementos suficientes para se aferir se há condições físicas e fisiológicas de cada um dos escolhidos de entrar em campo e desempenhar sua capacidade em alto rendimento.

As coincidências, como, por exemplo, as duas vitórias por sete gols, não podem ser encaradas também como uma mera obra do acaso. Da mesma maneira, que o futebol dá mais uma mostra de que as razões para o sucesso podem ser visualizadas no resultado, mas não se restringem apenas àquilo que conseguimos detectar à primeira vista. Afinal, o resultado não é tudo no esporte, mas que, ainda que não se faça parte da torcida bávaro, é satisfatório observar mais uma vez que o espírito esportivo e de competitividade mais uma vez esteve nos campos e nas telas para todo o mundo observar.

* Leonardo é jornalista, responsável pelo blog "Norsk A. Angel e os Conversamentos aleatórios" e colabora para este blog.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Contradições e números do futebol há 14 anos

Estava eu em casa e resolvi olhar uma revista Placar antiga que possuo, de fevereiro de 1998. Daí, observei dois fatos interessantes que escolhi para abordar neste texto: salário de treinadores no Brasil e horário dos jogos na televisão.

Então surgiram algumas dúvidas: será mesmo que os técnicos são supervalorizados apenas nos dias de hoje, como muitos dizem? Os salários pagos a esses dois treinadores em 1998 equivalem, proporcionalmente, aos despendidos atualmente? Tive a ideia de trazê-los para os dias atuais, a título de comparação.

Em 1998, TV Record transmitia jogos às 21h30 de
quinta-feira (foto: reprodução Revista Placar, fev. 1998)

Hoje, a TV Record critica a administração do futebol no Brasil, inclusive o horário dos jogos à noite. Porém, em 1998, a emissora paulista detinha os direitos do Campeonato Paulista e transmitia as partidas às 21h30 das quintas-feiras, de acordo com a nota da revista Placar da época. Quanta incoerência não é mesmo? Enquanto transmitia não havia problema, agora reclama porque foi alijada do futebol.

Assim também foi a TV Bandeirantes, que antes da parceria com a TV Globo – onde recompra parte dos direitos da Copa do Brasil e dos campeonatos Paulista e Brasileiro – também reclamava do horário das partidas no meio de semana.

Em 1998, Luxa e Felipão recebiam R$ 150 mil

De acordo com a edição de fevereiro de 1998 da revista Placar, o salário dos dois melhores treinadores na época, Vanderlei Luxemburgo e Luiz Felipe Scolari, era de R$ 150 mil mensais. Parece pouco, mas já era um absurdo para o país naquele período do ano que tinha o salário mínimo em R$ 120,00. Comparando-se com o mínimo de 2012, que está em R$ 622,00, o salário do brasileiro subiu 518,33%. Não vou entrar no mérito do aumento real, que desconta a inflação no período.

Atualmente, o salário de Felipão no Palmeiras é de R$ 700 mil mensais, de acordo com o levantamento realizado pelo site português Futebol Finance. Um aumento de 466,66% em relação ao valor recebido pelo treinador em 1998, porém abaixo do que cresceu o salário mínimo no período. Portanto, naquele ano, Felipão recebia, proporcionalmente, R$ 77 mil a mais do que o seu contrato atual.

Luiz Felipe Scolari e Vanderlei Luxemburgo recebiam R$ 150 mil
por mês, em 1998 (foto: reprodução Revista Placar, fev. 1998)

Já o salário estimado de Luxemburgo no Grêmio é uma incógnita. O jornalista Paulo Vinícius Coelho, da ESPN Brasil, garantiu que o treinador receberia R$ 450 mil no clube gaúcho. Em relação à remuneração de Luxa em 1998, o aumento foi de 300%. Já o diário esportivo Lance! cravou que o treinador continua ganhando no Tricolor Gaúcho os mesmos R$ 700 mil que recebia no Flamengo. Assim, o aumento passaria a ser de 466,66%, o mesmo reajuste de Felipão, comparando-se o salário deles em 1998.

Ainda assim, confrontando-se com o índice de reajuste do salário mínimo, hoje, os dois treinadores recebem menos do que há 14 anos. E ainda ouço muitos comentaristas esportivos dizerem que, atualmente, os técnicos de futebol ganham muito no Brasil. Pelo contrário. Por esses números, vemos que o técnico brasileiro está sendo supervalorizado há mais de dez anos.

O que uma boa viagem no tempo não faz...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Empresas buscam dinheiro fácil e clubes erram no planejamento

Visando diminuir a dependência dos clubes em relação aos grupos de investidores, algumas empresas vêm criando outras formas para contratar jogadores para as equipes. É o chamado 'financiamento colaborativo', onde o torcedor paga uma determinada quantia com o objetivo de arrecadar dinheiro até certa data para a aquisição de um atleta para o clube do coração.

A empresa mais conhecida é a MOP - My Own Player (meu próprio jogador), um site que está na campanha para trazer o volante Wesley, do Werder Bremen, para o Palmeiras por meio de doações de dinheiro dos torcedores, onde o valor mínimo é R$ 100,00. O site é wesleynoverdao.com.br. O pior é que equipes como o Palmeiras, aderem a fórmulas que eu chamo de “nova forma de ganhar dinheiro fácil no Brasil”.

Isso porque o mais interessante é que a empresa responsável pelo site ficará com 10% do valor arrecadado. A informação é de André Barros, responsável pelo My Own Player. A fatia pode chegar a R$ 2,1 milhões caso o Palmeiras consiga os R$ 21 milhões pretendidos até 25 de março. É ou não é uma forma mais fácil de angariar uns milhões por aí?

Reprodução do site My Own Player
Outro site com propósitos semelhantes está em funcionamento em formato experimental (beta) desde o final do ano passado. Porém, diferentemente do MOP, no Clube.me além do clube, o torcedor pode sugerir projetos para os clubes, como a contratação de um atleta, melhorias na infraestrutura, reparos no estádio e no CT, além do absurdo pagamento de “bicho” a jogadores por um título de campeonato. Basta o interessado realizar o cadastro da ideia no site. Bem que previam que 2012 será o fim do mundo...

Reprodução do site Clube.me
Mas voltando ao texto, os administradores do Clube.me vão analisar a proposta cadastrada e caso seja a escolhida, será publicada. A partir de então, a ideia entra em votação. Para vingar, a ideia da contratação de determinado jogador deve atingir a meta de 10 mil torcedores cadastrados aptos a doarem o dinheiro para a campanha.

Quando o objetivo for alcançado, o Clube.me se encarrega de entrar em contato com o clube, que pode apostar na iniciativa ou não. Em caso positivo, o clube informa ao site a data do término da campanha e o valor que precisará arrecadar para que o projeto se concretize.

Depois, ambos divulgam o projeto e os torcedores podem optar por apoiá-lo com qualquer valor a partir de R$ 10,00. Em contrapartida, o site oferece recompensas aos doadores que vão desde boné, meia, gorro e cachecol até a camisa oficial do clube participante. Se o valor sugerido pelo clube for atingido pela campanha, o site faz a entrega e fica com uma porcentagem, que seria acertada com o clube.

Caso o plano dê errado, os doadores ficarão com créditos para outros projetos do site, ou seja, o dinheiro doado não será desbloqueado, diferentemente do MOP que devolve ao torcedor contribuinte o valor retido no cartão de crédito.

Projetos ainda não decolaram

Assim como a campanha do MOP para trazer Wesley para o Palmeiras não está dando certo (após 20 dias, pouco mais de R$ 500 mil, ou 2,6% dos R$ 21 milhões foram arrecadados), as do Clube.me também afundam. O atacante Adriano, dispensado recentemente do Corinthians, está no site para ser votado pelos torcedores que desejam vê-lo no Flamengo. Entretanto, até as 16 horas da data desta postagem, o Imperador atingiu apenas 1% da meta, recendo 134 apoiadores dos 10 mil que gostariam de investir na sua contratação.

Reprodução do site Clube.me
O site ainda conta com votações para investimento em outros jogadores, como a compra dos direitos econômicos do meia argentino Bertoglio, emprestado ao Grêmio (atingiu 25% da meta dos 10 mil votos); pela permanência de Leandro Damião, no Internacional (2% votos); e pela renovação de contrato do Cruzeiro com o atacante Wallyson, que termina no meio deste ano, com 0% da meta alcançada e apenas 4 torcedores que apoiam a causa.

Falta de planejamento dos clubes

E aí vêm os questionamentos. Os torcedores ajudam a comprar o jogador, mas, se depois de um ano, surgir uma boa proposta pelo atleta e o clube o vender? Como ficam os torcedores? Com cara de otário, não é!

Não seria melhor desenvolver um plano de sócio-torcedor, que funciona praticamente da mesma forma, sem contar a renda extra que entraria com cobrança para visitar o museu, restaurante, cinema ou o bar do clube? Tudo isso e ainda por cima não teria que pagar as tais comissões por fora. Mas o pensamento dos nossos clubes é tão pequeno que preferem se entregar a empresas que visam apenas o próprio lucro.

Os clubes já ganham milhões nas custas do torcedor que compra ingresso, produtos originais, pay-per-view... e agora têm que bancar contratações? É muito para o dinheirinho suado do pobre indivíduo que apenas torce por um time de futebol.

domingo, 11 de março de 2012

Pedido de licença de Ricardo Teixeira da CBF não muda nada

Demorou, mas Ricardo Teixeira pediu afastamento do cargo de presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) por 60 dias. Já é alguma coisa, porém não o bastante para a moralização do futebol brasileiro.

José Maria Marin, de 79 anos, foi indicado como presidente interino da entidade. Ex-governador de São Paulo, Marin também esteve à frente da Federação Paulista de Futebol de 1982 a 1988 e é o vice-presidente da CBF na Região Sudeste.

Mas o que importa não é a saída de Ricardo Teixeira e sim quem conseguirá reformular estrutura podre da CBF. Porque será mesmo que apenas uma possível renúncia de Teixeira melhoraria a organização do futebol brasileiro? O problema não estaria no sistema estrutural implantado por RT há 23 anos na CBF? Quem estiver no cargo, seja Marin ou outro, não continuará fazendo as mesmas mazelas?

O problema da CBF é interno. Ricardo Teixeira montou uma estrutura para favorecê-lo e será difícil destrui-la. Quem entrar será indicado por ele, mesmo que aconteçam novas eleições.


Para acabar com o câncer na entidade-mor do futebol brasileiro, a mudança tem que vir lá de baixo. Os dirigentes dos clubes precisam pressionar os presidentes das Federações, que atualmente pertencem à mesma laia da CBF.

Ou então, cria-se uma liga independente, que estaria sujeito ao esforço de cada cartola. E esse esforço inclui jogar para escanteio as vaidades, picuinhas pessoais e rixas que existem entre eles. Diferenças estas que, aliás, não levarão a nada, apenas à permanência da má administração do futebol brasileiro.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Sem parar

Por Leonardo Diniz*

A sede de vencer é inescapável. Essa pode ser uma interpretação da goleada aplicada pelo F. C. Barcelona, na partida de volta das oitavas-de-final da Uefa Champions League contra os alemães do Bayer Leverkusen.

Para os espectadores que acompanharam no estádio Camp Nou e para os telespectadores de todo o mundo que passaram noventa minutos à frente da TV, o ímpeto mantido pelos ‘blaugranas’ durante toda a partida foi uma retribuição mais do que merecida por sua dedicação para acompanhar uma partida que parecia definida antes de seu início.

Com a vitória da equipe dirigida por Pep Guardiola há duas semanas, na Bay Arena, em Leverkusen, por 3 a 1, poucos acreditavam que a classificação dos espanhóis não estivesse assegurada. No entanto, poucos também esperavam que, após Lionel Andrés Messi marcar o primeiro tento do duelo de volta aos 24 minutos da etapa inicial, ele comandaria os azuis-grenás a uma vitória épica por 7 a 1 e, ainda por cima, assinalaria seu nome como o primeiro autor de cinco gols em uma única partida na competição disputada nos moldes atuais.

O mérito da agremiação está justamente em superar um discurso muitas vezes defendido por alguns torcedores e, mesmo por alguns jogadores, de diminuir o ritmo quando sua equipe estiver goleando e garantindo sua classificação ou mesmo um título. A justificativa para essa argumentação é a de que, em caso de estarem na mesma situação, receberão o mesmo tratamento e evitarão sofrer uma humilhação, afinal, dizem eles, todos têm uma reputação a preservar e um futuro que poderia ficar manchado por um fracasso retumbante.

Ao contrário dos que pregam essa ‘camaradagem’, o que se viu no principal campeonato europeu de clubes foi o verdadeiro espírito de competitividade lembrado pelo maior jogador de basquete brasileiro de todos os tempos, o ala Oscar Schmidt. O camisa 14, que participou de cinco edições dos Jogos Olímpicos, sempre que entrevistado destaca a importância de saber vencer e de não facilitar para qualquer adversário para mostrar a eles como vencer é difícil. Schmidt, inclusive, dava o exemplo das disputas com seu filho, seja no futebol de mesa seja nas peladas de basquete, em que, independentemente da diferença de idade e de sua condição de profissional em contraponto ao período de formação no esporte vivido pelo herdeiro à época, ele disputava como se estivesse diante de um oponente qualquer e, claro, sempre vencia.

Na temporada 2011/2012 do futebol nacional e internacional, podem-se observar outros massacres infligidos por tradicionais equipes que não abriram mão de seu potencial ofensivo e de ampliar o resultado obtido até então. Em 23 de outubro do ano passado, os azuis celestes do Manchester City atropelaram seus rivais locais do United por 6 a 1, devolvendo goleada sofrida pelo mesmo placar em 1926. Os ‘Citizens’ aproveitaram a oportunidade de contar com a equipe mais bem organizada desde muitos anos e não desperdiçaram a chance de mostrar que são capazes de provocar turbulências, até mesmo dentro de Old Trafford, casa dos Red Devils.

No mesmo ano, só que no Brasil, também não vai sair das memórias dos torcedores cruzeirenses nem atleticanos a vitória pelo mesmo placar do clássico de Manchester também a favor da porção azul da cidade. Ainda que os teóricos da conspiração, aqueles que sempre aparecem para afirmar que sabiam com antecedência de um plano maquiavelicamente arquitetado nos bastidores, afirmem ter havido uma suposta negociação para a entrega do placar e, com isso, evitar o rebaixamento da ‘Raposa’, o que se pode observar em 4 de dezembro foi uma partida em que as duas equipes não estavam na mesma frequência.

Enquanto os celestes abriram o placar e correram rumo à ampliação do marcador, os alvinegros sentiram o primeiro gol sofrido e, somado a ausência de necessidade maior de vitória para alcançar outros objetivos na competição como classificação, por exemplo, à Copa Sulamericana, não conseguiram assumiram o controle do jogo ou, ao menos, equilibrá-lo.

Esses exemplos são suficientes para que se continue a acreditar que, apesar de inúmeras contradições existentes no esporte e especificamente no futebol, ainda é possível encantar-se com sua magia e acreditar que sempre continuarão a existir os atletas, na mais completa acepção da palavra e que seguem o slogan olímpico cunhado pelo Barão Pierre de Coubertin “Mais forte, mais rápido, mais alto” e, que vença o melhor, e da melhor maneira possível.

* Leonardo é jornalista, responsável pelo blog "Norsk A. Angel e os Conversamentos aleatórios" e colabora para este blog.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Chega de preconceitos... na sociedade e na mídia esportiva

Foto: Agência EFE

Nunca falei sobre racismo no esporte, pois acho que a mídia esportiva não deveria dar espaço a acontecimentos que envolvam esse tipo de preconceito. Mas, ultimamente, o tema tem extrapolado o bom senso. Claro que o assunto deve ser apontado e debatido exaustivamente. Porém, não é papel da imprensa dita Esportiva fazê-lo. Vamos deixar para outras áreas do jornalismo.

É inacreditável a que ponto chegou o caso envolvendo o oposto Wallace, do Sada Cruzeiro. O grito de “macaco” vindo de uma torcedora do Vivo-Minas ganhou mais destaque em jornais, televisões, rádios e Internet do que a excepcional vitória da equipe da casa, que perdia por 2 sets a 0 e virou para 3 a 2. Assim como foi deixado de lado as grandes atuações do central Acácio e do levantador William, do Cruzeiro, e do central Henrique e do oposto tcheco Filip, do Minas.

Caso aconteça outro caso de racismo em qualquer outro esporte, penso que nós (a imprensa) deveríamos ignorar o fato e relatar apenas o ocorrido no âmbito esportivo. Pessoas que invadem campo de jogo ou praticam atos racistas querem somente aparecer. Então, não deixemos que eles ganhem destaque por ações lastimáveis. No caso desta “torcedora” do Minas, a infratora acabou se vangloriando dos 15 minutos de fama que teve. Era isso que ela desejava e, infelizmente, foi o que teve.

Durante alguns dias, ela deve ter achado o máximo o fato de sua voz ecoar por vários canais de TV, sem ao menos ter sido identificada pela polícia. Dos vários programas esportivos que vi nos dois dias subsequentes à partida, a única televisão que não deu brecha para o assunto foi a Rede Minas.

No entanto, eu apurei que a emissora noticiou apenas o grande triunfo minastenista porque a equipe de reportagem que estava no ginásio não gravou o trecho do jogo em que ocorreu o fato, senão teriam abordado o assunto também.

Na temporada passada da Superliga Masculina, Michael, central do Vôlei Futuro, foi vítima de homofobia por parte da torcida do Sada Cruzeiro. O jogador foi entrevistado (e exposto) por vários veículos de comunicação em detrimento às grandes exibições proporcionadas pelas duas equipes que disputavam uma vaga na final do torneio.

Já que os fatos foram expostos e discutidos pela mídia, daqui para frente, vamos falar exclusivamente de como foi a partida de vôlei, futebol ou basquete sem mencionar fatores extra-campo e extra-quadra. Podemos copiar a maioria das emissoras de televisão da Europa.

Quando há invasão de campo nas partidas de futebol, imediatamente o diretor de TV corta para outras imagens que não seja a do invasor. Mostram a torcida presente no estádio e repetem alguns lances do jogo. Tudo com a intenção de não dar crédito e os 15 segundos de fama para o delinquente, justamente o que ele deseja.

Quem ganha é o esporte, pois racismo ou qualquer outro tipo de preconceito é assunto para o caderno de polícia, não o de esporte. Por isso, é a primeira e última vez que falo sobre isso.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Homens Gol: sempre necessários, ainda existentes

Por Leonardo Diniz*

Quem consultar o site de agendamento de partidas de futebol realizadas por grupos fechados Peladeiro.com poderá se deparar com algumas denominações inusitadas e que vem bem ao encontro do assunto dessa postagem. Caso o jogador tenha como característica o faro apurado de gols, ele pode se descrever como Homem Gol, exatamente como Jorge Ben Jor cita na canção Ponta de Lança Africano (Umbabarauma).

E eles estão presentes não apenas nos campos, quadras, arenas e várzeas amadoras por onde desfilam jogadas de todos os estilos, mas também nas principais competições profissionais pelo Brasil e pelo mundo.

As mudanças de posicionamento as quais são submetidos os atletas a fim de se enquadrar nos esquemas táticos adotados pelos treinadores de cada época, a exemplo do popular 4-2-3-1 nos tempos atuais, levam ao surgimento de atletas com perfil distinto ao da época imediatamente anterior.

Talvez não fosse necessário, mas se compararmos as mudanças às quais os boleiros de cada posição tiveram de se adequar desde o antigo WM (2-3-5), passando pelo 4-2-4 da década de 1950, a passagem para o 4-3-3 que dominou a década de 1970, o esquema que deu até nome a uma tradicional publicação inglesa 4-4-2 (Four Four Two) e alcançando o esquema citado no parágrafo acima, constataremos que as funções desempenhadas mudaram razoavelmente.

Mas se houve também alterações na forma como uma equipe se dispõe dentro das quatro linhas, muitas outras continuaram do mesmo jeito e, para alguns, não poderia ser de outra maneira. Essa visão do jogo é defendida por alguns que acreditam que, por exemplo, o papel do centroavante, o mesmo que até há umas duas décadas era facilmente reconhecido o camisa nove do time, deve ser prioritariamente o de marcar gols.

A eficácia do camisa 9 em decisões

O retorno a 2002 pode nos mostrar dois exemplos mais claros do entendimento de como devem atuar os jogadores mais avançados que prevaleceu e ainda prevalece em muitas das agremiações brasileiras e além de suas fronteiras. O Sport Club Corinthians Paulista, vice-campeão brasileiro daquele ano, atuava com um trio de ataque que dificilmente era modificado e que era composto por Deivid, hoje no Flamengo, Leandro, atualmente no Comercial, de Ribeirão Preto, e que estava no Vasco até um mês atrás, e Gil, cujo último clube foi o União, de Mogi das Cruzes, pelo qual disputou a Série B, a 4ª divisão do estadual paulista.

Naquela formação que teria o reforço de Guilherme, atacante que fez história no Atlético Mineiro no fim da década de 1990, no segundo semestre daquele ano, não havia nenhum dianteiro titular com a função de ficar na área à espera de um passe ou cruzamento para finalizar a gol. A equipe paulistana contava, no entanto, com três jogadores muito rápidos e que, à base de muita movimentação, auxiliavam a equipe na incessante troca de passes que a caracterizava sua imensa posse bola e a conclui-la em contra-ataques letais. A alternativa concebida por Carlos Alberto Parreira, treinador à frente do elenco alvinegro durante todo o ano, fora bastante eficaz, especialmente por contar com peças capazes de executar o plano de jogo do comandante tetracampeão.

No entanto, um contra-exemplo ou, melhor dizendo, um exemplo de que não estava sendo implantado um futuro inexorável foi apresentado pelo próprio adversário do então tricampeão brasileiro na decisão daquele Brasileirão. O time que ficou conhecido como o Santos de Robinho e Diego promoveu inúmeros outros jogadores que fizeram e fazem sucesso atualmente nos gramados europeus, como Alex, recém-contratado pelo Paris Saint Germain, Renato, ex-Sevilla e hoje no Botafogo, e Elano, ex-Fenerbahce e Manchester City e atuando pelo Santos. Porém, para que o clube praiano alcançasse sua primeira conquista do campeonato disputado desde 1971, um nome foi super decisivo e não é tão lembrado como seus colegas que disputavam sua primeira edição do torneio, o centroavante Alberto.

Alberto, atacante do Santos, em 2002
(Foto: ahistoriadosantosfc.blogspot.com)
Sem a mesma técnica que se destacava nos companheiros, que lançavam mão de antecipações para desarmar, passavam com precisão em pontos que mesmo o espectador não esperava que eles pudessem imaginar ou realizavam dribles como as famosas pedaladas, o camisa 9 santista anotou 12 gols, incluindo um memorável de bicicleta contra o rival da decisão ainda na disputa da fase de classificação.

Então com 27 anos e não tão badalado como as revelações que surgidas naquele ano, a segunda geração dos Meninos da Vila, o centroavante exercia a função de referência na área para que pudesse atrair a marcação, normalmente, de dois adversários e facilitava o trabalho de seus companheiros que podiam se lançar ao ataque com mais ímpeto e mais chances de sucesso.

E a geração de nomes com seu porte físico e seu posicionamento não se esgotou por ali, ainda que atualmente a exigência para que os adorados ou odiados camisas 9 desloquem-se mais do que antes para escapar das marcações cada vez mais acirradas.

Os matadores brasileiros modernos

A rodada do último final de semana, com clássicos disputados em vários campeonatos estaduais, provou definitivamente que esses “forwards” continuam na ativa. No Choque-Rei, o clássico entre Palmeiras e São Paulo, disputado em Presidente Prudente, contou com dois gols do argentino Hernán Barcos. Um deles, seu primeiro na partida, mas o segundo alviverde, demonstra claramente o papel que se esperava de um jogador como ele antigamente persiste em ser realizado. Após receber a bola de costas, na autêntica proteção exercida por um pivô, “El Pirata” girou sobre a marcação, puxou mais à esquerda e chutou da entrada da pequena área para marcar. Já na segunda finalização que resultaria em gol, o jogador recebeu cruzamento pelo alto, também na pequena área, e sozinho, por ter se antecipado à marcação rival, dominou de primeira e desferiu chute cruzado para fazer o terceiro gol palmeirense.

Montagem feita pela torcida do
Fluminense: "O Fred vai te pegar"
(Foto: inthedarkplanet.blogspot.com)
O que dizer, por exemplo, do centroavante Frederico Chaves Guedes, o Fred, vice-artilheiro do Brasileirão 2011, com 22 gols, um atrás de Borges, do Santos? Autor do segundo gol da vitória do Fluminense sobre o Vasco por 3 a 1, na final da Taça Guanabara, que deu o título do primeiro turno do Campeonato Carioca ao tricolor, o mineiro de Teófilo Otoni é especialista em definir de dentro da área. Não é por menos que ele se notabiliza por liderar o time quando ela mais precisa, a exemplo da recuperação no Brasileirão de 2009, quando o rebaixamento era dado como certo por quem acompanhava de perto o torneio, inclusive por estatísticos, a nove rodadas de seu término, ou na arrancada do Flu rumo ao terceiro lugar do última edição desse torneio nacional. E, cuidado, pois, como diz a massa “Pó de Arroz”, “O Fred vai te pegar”, numa possível alusão e comparação ao personagem Fred Krueger dos filmes de terror, ambos conhecidos por serem implacáveis.

Por que sempre eles?

E para corroborar essa tese em plagas distantes, pode-se atravessar o Atlântico e identificar exemplos no Velho Continente. Na “Terra da Rainha”, um italiano que se notabiliza por preencher as páginas de diversos cadernos dos periódicos ingleses e que não utiliza a camisa 9 é um exemplo de que o número pode ter mudado, mas a função é a mesma e a letalidade idêntica. Em se tratando de Mario Balotelli, camisa 45 do Manchester City, referir a seu grau de perigo pode servir tanto a seu poderio dentro da área como a suas aventuras ou desventuras em sua própria casa, quando, por exemplo, arriscou-se a lançar fogos de artifício de dentro do banheiro.

Polêmico atacante italiano Mario Balotelli
(Foto: mostlyrandomphotoseh.blogspot.com)
Porém, não se pode ignorar que o atacante, que sofreu com algumas contusões durante a temporada e em razão da cultura europeia de promover o rodízio de jogadores a fim de preservá-los para participar plenamente do maior número possível de partidas, é um definidor nato. Autor de 10 gols em 15 partidas disputadas na Barclay’s English Premier League até a data deste post, ele é, apesar de toda a polêmica que o cerca, uma garantia de que, se a bola chegar até ele, o destino é certo e a comemoração também, afinal, inúmeras vezes ele teve o privilégio de levantar a camisa dos citizens e, por baixo, mostrar outra com a frase “Why always me?” (Por que sempre eu?).

E, mesmo que possamos citar uma infinidade de outros nomes, um deles é, atualmente, o maior exemplo de centroavante matador. No Calcio, o ídolo de Udine, Antonio Di Natale, artilheiro das duas últimas edições da Serie A Italiana, com 28 gols em 2009-2010, e 29 gols em 2010-2011, está na liderança, ao lado de Ibrahimović, na corrida dos “capocannoniere” da atual temporada.

Prova de que atuar com um atleta como ele é mais do que o retorno ao passado glorioso lembrado por muitos saudosistas. Contar com um camisa 9 de verdade é a certeza de que, às vezes pode até faltar volume de jogo, mas com uma chance ele irá resolver o jogo e mostrar a que veio.

* Leonardo é jornalista, responsável pelo blog "Norsk A. Angel e os Conversamentos aleatórios" e, quando pode, colabora para este blog.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Especial Técnicos: em 2012, eles já chegam preparados para serem demitidos

Na última postagem do Especial Técnicos, vou falar da banalização que virou a troca de treinadores em nosso país. No Brasil, a constante troca de técnico está chegando ao ponto de alguns treinadores, antes mesmo de assumirem uma equipe, sofrerem forte rejeição da torcida e, às vezes, até de parte da diretoria. A pressão é cada vez maior pelo resultado imediato.

Exemplos recentes deste descrédito com determinados técnicos são Caio Júnior, no Grêmio, e Vágner Mancini, no Cruzeiro. Ambos já chegaram aos seus respectivos clubes pressionados pela torcida. Caio havia assumido o Tricolor Gaúcho no início deste ano e Mancini na reta final do Brasileiro 2011.

A temporada 2012 mal começou e as vaias apareceram. A diretoria gremista abaixou a cabeça para o coro vindo das arquibancadas e, após oito jogos, anunciou a demissão de Caio Júnior. Foram 4 vitórias, 1 empate e 3 derrotas no Campeonato Gaúcho.

Sem saber,  Caio Júnior foi contratado pelo Grêmio como 'técnico-tampão
 e demitido após oito jogos. (Foto: Ricardo Rímoli/Lancepress!)

Mesmo que seja cedo para avaliar o trabalho do treinador – pois o Grêmio reformulou o elenco –, teriam pesado contra Caio o empate contra o time reserva do Inter, derrotas para equipes inferiores e exibições pouco convincentes nas vitórias. Foram citadas também pela diretoria as dificuldades em definir um esquema tático e em montar um time considerado titular. Luxemburgo entrou no lugar.

Mas a verdade é que a diretoria gremista já desejava contratar Luxemburgo no início de 2012. Não conseguiu por causa da multa rescisória do técnico com o Flamengo. Como quebra-galho, "laçou" o Caio Júnior mesmo e foi "empurrando com a barriga" até Luxa estar disponível, sendo que ele vinha desde o final do ano passado em rota de colisão com a direção rubro-negra e a demissão era questão de tempo.

Então, tudo que foi falado pelos diretores do Grêmio como justificativas para demitir Caio Júnior foram meras desculpas esfarrapadas.

No Cruzeiro, a situação de Vágner Mancini também não é das melhores. O treinador sofre com os protestos de torcedores e com as críticas de parte da imprensa, principalmente pela montagem do time para este ano. Jogadores pouco conhecidos foram contratados e a derrota para o Guarani, de Divinópolis, na estreia do Campeonato Mineiro piorou a situação.

Mesmo sob forte pressão da torcida, Vágner Mancini ainda respira
no comando do Cruzeiro. (Foto: futebol.radiomania.com.br)

Depois disso vieram três vitórias consecutivas. Nem este arranque diminuiu nos torcedores a sede de mudança no comando técnico cruzeirense. No entanto, Mancini continua resistindo e se mantém firme no cargo.

Citei esses dois casos, mas há muitos outros. A cultura do futebol brasileiro da troca do técnico, quando as coisas só começam a caminhar mal, está ficando cada vez mais precoce. A meu ver esse fato é ruim, pois quebra uma sequência de trabalho para iniciar outra que, a princípio, é incerta. E, se o resultado não aparecer, a segunda sequência de trabalho também será interrompida, tornando-se um círculo vicioso.