sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Onde está o público deste Brasileirão?


A história do Campeonato Brasileiro mostra que o torneio nunca foi capaz de registrar grandes médias de público. Desde 1971, a maior quantidade de espectadores por jogo foi anotada em 1983. Naquele ano, a média foi de 22.953 pessoas por partida.

Neste ano, até a 17ª rodada, a média de público é de 11.949 pagantes por confronto. No momento, é a terceira pior média da história dos pontos corridos. Fica à frente apenas das duas primeiras edições: em 2003, quando a média foi de 10.468 e, no ano seguinte, quando o público pagante por jogo foi de 8.805.

A média tão baixa de torcedores por duelo pode ser explicada por fatos curiosos. Equipes que lutam pela liderança, no caso Vasco e Fluminense, levam, em média, cerca de 10 mil pessoas a cada confronto em casa. Número muito baixo para quem briga pelo título, não acham? Até a 16ª rodada, a taxa de ocupação média do estádio pela torcida do Vasco era de 39%. Os números do Fluminense não são muito diferentes. A torcida do Tricolor Carioca ocupa, em média, apenas 22% do estádio nos jogos do Flu em casa.

O Botafogo é outro time que não vem atraindo torcedores para o Engenhão, mesmo com a recente contratação do holandês Seedorf. A estreia do meia-armador aconteceu diante de 29 mil torcedores em um estádio com capacidade para 45 mil pessoas. Na última quarta-feira, quando o Fogão venceu o Sport por 2 a 0, pela 17ª rodada, com um dos gols marcado pelo craque internacional, o público pagante foi de 2.457 testemunhas. Uma vergonha. Em todo o campeonato, a taxa de ocupação média da torcida botafoguense é a mesma do rival Flu: 22%.

Na mesma rodada, o Vasco, que entrou em campo buscando a vice-liderança, jogou contra o Coritiba diante de 5.013 pagantes. Já o Grêmio, que está em quarto lugar, jogou diante da Portuguesa para pouco mais de 15 mil pessoas no estádio Olímpico que comporta 45 mil espectadores. Em média, a cada jogo do Tricolor Gaúcho em seu estádio, apenas 43% do Olímpico é preenchido por torcedores gremistas.

Conforme matéria publicada pelo Tabelinha E.C, até a 16ª rodada, a maior média de ocupação do estádio deste Brasileirão é do líder Atlético-MG: 78,8%. O rival Cruzeiro vem atrás com 68,1%.

Taxa de ocupação dos estádios europeus

Comparando com os principais campeonatos europeus, entretanto, as taxas de ocupação registradas por Atlético e Cruzeiro conseguem se aproximar apenas da Serie A Italiana, onde a Juventus, campeã na temporada 2011/2012, ficou em primeiro lugar também na taxa de ocupação média, com 91,6% do Juventus Stadium preenchido por seus torcedores a cada jogo. O Cesena aparece em segundo lugar com 68,8% e o Napoli em terceiro com média 66,1% de ocupação por partida do estádio San Paolo.

Taxa de ocupação média dos estádios pelos clubes italianos na temporada 2011/2012

Agora, se compararmos com outros campeonatos, as taxas de ocupação média do Brasileirão levam uma surra. Na Inglaterra, 16 dos 20 times que disputaram a última temporada da Premier League registraram taxa de ocupação média superior a 80%, sendo que 11 desses clubes registraram mais do que 95% na ocupação média nos jogos em casa. Manchester United, Tottenham e Arsenal venderam praticamente todos os ingressos para todas as suas partidas em casa no campeonato inglês inteiro: os estádios desses três clubes ficaram, em média, 99,4% ocupado por seus torcedores em cada um dos 19 jogos.

Taxa de ocupação média dos estádios pelos clubes ingleses na temporada 2011/2012 

Na Espanha, 12 das 20 equipes obtiveram ocupação média acima dos 70% nos seus estádios durante a disputa do Campeonato Espanhol’2011/2012. Destaque para o milionário Málaga – comprado em 2010 pelo sheik Abdulla bin Nasser Al-Thani, do Catar – que registrou a maior taxa de ocupação média do Espanhol: 98,8% do estádio La Rosaleda tomado pelos adeptos.

Os poderosos Real Madrid e Barcelona ficaram bem atrás. O time da capital foi o quarto clube que mais encheu seu estádio, em média, com 87,3% de taxa de ocupação, enquanto o clube da Catalunha foi apenas o oitavo com 76,3% do Camp Nou preenchido por torcedores a cada jogo.

Taxa de ocupação média dos estádios pelos clubes espanhóis na temporada 2011/2012 

Levando-se a comparação para a Alemanha, a situação brasileira fica ainda mais discrepante. O país bávaro tem a liga mais bem sucedida da Europa com relação ao público nos estádios. O Borussia Dortmund, atual bicampeão, registrou a incrível marca de 99,8% na taxa de ocupação média em seu estádio. O Signal Iduna Park tem capacidade máxima para 80.708 espectadores e a média de público nos 17 jogos em casa da equipe na temporada passada da Bundesliga foi de 80.521 pessoas.

Das 18 equipes que atuaram no Campeonato Alemão’2011/2012, apenas três registraram taxa de ocupação média abaixo de 90%: Hertha Berlin (72,2%), Kaiserslautern (85,2%) e Nuremberg (86,4%). Mesmo assim, são bem superiores aos números registrados no Campeonato Brasileiro e até aos de muitos times que disputam os principais torneios nacionais na Europa. Só a taxa de ocupação média do campeonato já é incrível. Em média, por partida, a Bundesliga registra 92,7% de cada estádio tomado por torcedores.

Taxa de ocupação média dos estádios pelos clubes alemães na temporada 2011/2012 

Enquanto isso, no Campeonato Brasileiro, mesmo clubes com boas campanhas, como Vasco e Fluminense, ou a vinda de craques internacionais como Seedorf, Forlán e Loco Abreu, não são suficientes para, pelo menos, turbinar a média de público nos estádios, que permanecem vazios.

Voltando ao dado inicial do texto, a média de público desta edição do Campeonato Brasileiro, até a 17ª rodada, é de 11.949 pagantes por jogo. Assim, a taxa de ocupação média do campeonato fica em apenas 34,7%. Muito pouco. Claro que temos sérios problemas de transporte e segurança em dias de jogos – que afastam os torcedores dos estádios –, mas isso é responsabilidade do Governo.

Fato é que se deve repensar urgentemente a organização do futebol brasileiro, que vive não apenas uma crise técnica de seus jogadores, mas também tática – porque não temos bons treinadores – e crise eterna de espectadores nos estádios, pois a falta de público não vem de agora.

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