segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sobram atacantes. Falta qualidade

por Fábio Rocha

O futebol mineiro iniciou 2011 com uma situação curiosa: todas as três equipes da capital correndo atrás de atacantes. O que evidencia a falta de qualidade no setor de América, Atlético e Cruzeiro. A enorme quantidade de jogadores para a posição no Galo e na Raposa é de assustar. Mas se formos reparar, apenas um ou dois têm condições de vestir a camisa de titular. No Coelho há um número menor de atacantes, porém, apenas um tem a confiança da torcida.

Até o momento, o Coelho tem quatro jogadores para o ataque: Fábio Júnior, Thiago Silvy, Euller e Daniel Lovinho (a única contratação para o setor, mas de gosto duvidoso). Dos três times é o que mais precisa reforçar o ataque. Olha que o clube ainda dispensou, a pedido do técnico Mauro Fernandes, os avançados Jandson e Laécio. Pela Série B, o primeiro marcou apenas quatro gols em 18 jogos, enquanto o segundo entrou em campo em 10 partidas e não balançou as redes nenhuma vez. Números horríveis para um atacante.

O atacante Laécio foi dispensado após não marcar nenhum
gol no Brasileirão da Série B. (Foto: site América)

O único que salva no ataque americano é Fábio Júnior, vice-artilheiro da Série B em 2010 com 19 gols. Thiago Silvy segue apenas como opção para o banco de reservas, já que o time precisa de mais um atacante qualificado se quiser fazer muitos gols na Série A de 2011. A dor de cabeça para a ofensiva de Mauro Fernandes é tanta, que o técnico improvisou o armador Luciano no ataque nos amistosos deste ano. E, claro, ele não conseguiu render como no meio, prejudicando o esquema tático.

Euller já não aguenta mais o ritmo do futebol atual. Com 39 anos, o jogador, que tem como característica principal a velocidade, não foi bem em 2010, sofreu com lesões e não rende mais para o clube. Claro que ele tem uma história no América, mas pelo bem da instituição penso que o “Filho do Vento” deveria ter se aposentado ao final do ano passado. Em tempo: Euller renovou seu contrato com o América até julho deste ano, quando pretende encerrar sua carreira em um jogo de reinauguração do Estádio Independência.

O Cruzeiro é outro que sente a falta de um goleador. O time pecou demais nas finalizações durante o Brasileiro e terminou o campeonato como o sétimo melhor ataque com 54 gols. O clube pagou com a perda do título nacional. Ter Thiago Ribeiro como artilheiro do time na temporada não é o suficiente. Ele arma as jogadas. Joga pelos lados. A função principal de Thiago não é marcar gols e nunca foi durante toda sua carreira.

Só para se ter uma ideia da ineficiência do ataque celeste no Brasileiro do ano passado, o Cruzeiro venceu por 1 a 0 em nove oportunidades. Seria jogar pelo resultado ou retrata a falta de qualidade dos atacantes celestes? Fico com a segunda opção. Ou derrotas para Ceará, Atlético-GO e Vitória, além de empates em casa contra Avaí e Prudente são justificáveis? O Cruzeiro sente falta de um camisa 9 desde a saída de Kléber, em junho do ano passado. Outro que deixa saudade na torcida celeste é Marcelo Moreno, vendido em maio de 2008.


Marcelo Moreno marcou 21 gols em 36 jogos
pelo Cruzeiro entre 2007 e 2008 (Foto: Reuters)

Para 2011, Zezé Perrella prometeu um atacante de peso para suprir a falta de gols. Até agora ele não chegou. Desembarcaram na Toca II: André Dias, Reis e Ortigoza. Nenhum deles resolverá o problema. Assim como o Atlético, o Cruzeiro está com excesso de jogadores para o ataque, mas com pouca qualidade. Além dos três contratados, o clube ainda tem mais seis: Thiago Ribeiro, Wellington Paulista, Ernesto Farías, Wallyson, Eliandro e Thiaguinho.

Em sua passagem pelo Palmeiras em 2009, o paraguaio Ortigoza marcou apenas oito gols em 42 partidas, enquanto o Palmeiras lutava pelo título Brasileiro!! André Dias foi bem quando atuou pelo Paraná, em 2005, e pelo Vasco, em 2007, ano que foi vendido para os Emirados Árabes. E foi só. Depois não podemos analisar mais. Jogar no Oriente Médio, ser campeão e artilheiro por lá não serve de referência. Além disso, há seis meses o jogador se recupera de uma lesão no joelho. E o Reis, que se chamava Deivid no Tupi e no América, chega como aposta. Marcou 11 gols pela Ponte Preta no Brasileiro da Série B do ano passado. Mas jogar pela Ponte é uma coisa e pelo Cruzeiro é outra totalmente diferente. Lembremos das “apostas” cruzeirenses nos últimos tempos para o ataque: Wanderley, Rômulo, Kieza e Anderson Lessa.

Saindo das contratações, o Cruzeiro já conta no elenco com o argentino Farías, que não mostra mais futebol desde quando saiu do River Plate, em 2007. No Cruzeiro, ele atuou em apenas dez jogos marcando quatro gols. Wallyson foi uma das “apostas” e acabou sendo pouco aproveitado em 2010. Eliandro pouco acrescentou ao time quando jogou e Thiaguinho é a promessa de 2011. O jogador foi bem na campanha do bicampeonato do Brasileiro sub-20 neste ano, mas ainda precisa ser mais bem trabalhado nos profissionais.

Se Wellington Paulista permanecer no clube, penso que ele continua sendo o melhor para atuar ao lado de Thiago Ribeiro (único titular absoluto no ataque), ou seja, nada de novo na ofensiva cruzeirense para 2011.


Desde a saída de Kléber, o Cruzeiro não encontrou outro centroavante.
Pela Raposa, o Gladiador marcou 38 gols em 59 jogos. (Foto: Vipcomm)

No Atlético a situação do ataque é o melhor dos três, mas ainda sim é preocupante. Mesmo com a péssima campanha no Brasileiro de 2010, o Galo terminou a competição como o oitavo melhor ataque, com 52 gols. Mas com a saída de Obina para o Shandong Luneng, da China, o time perdeu um jogador-referência dentro da área. Afinal, Obina foi o artilheiro da equipe no ano passado com 27 gols em 39 partidas.

O que mais questiono é a qualidade dos atacantes alvinegros. Além disso, o clube conta com um inchaço na posição. São nove jogadores: Diego Tardelli, Jóbson, Neto Berola, Ricardo Bueno, Magno Alves, Pedro Paulo, Wesley, Wescley e Jheimy. Na minha modesta opinião, destes, apenas Tardelli e Jóbson têm qualidade para serem titulares. Mas e na reserva? Penso que Neto Berola e Magno Alves são bons reservas. Nada mais. Tirando o garoto Wescley, que veio da base – e ainda não se sabe qual será o rendimento dele no time profissional – não vejo qualidade nos outros atletas para a disputa de competições como Copa do Brasil, Brasileiro e Sul-Americana.


Após dois anos, Tardelli segue como referência no ataque atleticano.
Em 107 jogos ele marcou 67 gols. (Foto: Bruno Cantini/site Atlético)

Com a saída de Obina, Dorival Júnior aposta todas as suas fichas em Ricardo Bueno. Aquele mesmo que marcou apenas dois gols (contra o Atlético-GO) pelo Brasileiro do ano passado. Mas o técnico especialista em fazer milagres (fez o time do Vasco jogar bola, mesmo que na Série B, e salvou o Atlético do rebaixamento que parecia iminente), pode tentar praticar mais este feito no clube: fazer Ricardo Bueno jogar.

Apesar das contratações de América, Atlético e Cruzeiro, do jeito que as coisas vão, assim como em 2010, este ano os atacantes com poder de decisão no futebol mineiro continuarão sendo Fábio Júnior, Thiago Ribeiro e Diego Tardelli.
 

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