quinta-feira, 10 de março de 2011

Concorrência: sobra entre TVs e pode faltar no futebol brasileiro


O futebol brasileiro poderá tomar um novo rumo a partir de amanhã. A abertura dos envelopes com as propostas de Record e Rede TV! na concorrência aberta pelo Clube dos 13 pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro 2012-2014 e a Globo comercializando por fora pode mudar o atual quadro do esporte no país.

A concorrência entre as TVs é boa e deve ocorrer, mas com a Globo negociando individualmente com 14 dos 20 clubes do C13, conforme informou o jornal Folha de S. Paulo, pode haver um abismo entre os times que faturam mais e os que ganham menos pelos direitos de TV. Ao negociar separadamente, o Bahia não terá a mesma força que o Flamengo. Isso é lógico. Com a negociação em conjunto os clubes ganhariam mais.

Mas não. Cada um pensa no seu e pronto. O resto que se dane. E que se lasque também o futebol brasileiro? Não pode ser assim. Na Espanha, Barcelona e Real Madrid negociam com a TV em separado. Primeiro resultado: 1200% é a diferença entre o que recebe os dois gigantes e o clube que ganha menos para ter os jogos transmitidos pela TV. Segundo resultado: o Campeonato Espanhol vive há anos em uma disputa chata e desinteressante pelo título apenas entre Barça e Real.

Não estou dizendo que o valor das cotas de TV deva ser igual para todos, mas que a diferença entre o recebido por cada clube seja a menor possível, mesmo porque alguns times têm mais exposição na mídia do que outros. Mas muito mais do que isso, é estimular a concorrência por títulos.

Há tempos que nos orgulhamos e enchemos o peito para falar que o Brasileirão é o campeonato mais disputado do mundo. Mas será que a partir do ano que vem continuará sendo? Com Flamengo e Corinthians levando uma fortuna da TV e os outros bem menos?

Na última negociação com a TV, a diferença na receita entre os clubes que receberam mais (Corinthians, Flamengo, Vasco, Palmeiras e São Paulo) e os que ganharam menos foi de 86,6%. De acordo com o edital de licitação do C13 para os próximos três anos, essa diferença será de 75%. Valor muito próximo da Premier League – considerada a mais forte do mundo – que é de 66%.

Não podemos negar que hoje as cotas de TV são responsáveis pelas maiores receitas dos clubes brasileiros, superando até as cotas de patrocínio em alguns clubes. Claro que apenas o dinheiro da TV não faz dirigentes montarem bons times, mas ajuda e muito. Senão não haveria clubes adiantando verba da televisão como tem acontecido nos últimos tempos.

Um comentário:

Norsk A. Angel disse...

Rocha, os direitos de transmissão são um dos aspectos em discussão. No entanto, os clubes não podem focar apenas nesse ponto e esquecer-se das outras fontes de receita.As bilheterias, por exemplo, representam de 30% a 40% do faturamento da English Premier League e na Bundesliga. No Brasil, esse caminho começou a ser trilhado com a venda de carnês por alguns clubes, inicialmente pelo Coxa e pelo Furacão, mas perdeu um pouco da força. A hora é de abrir os olhos e enxergar os vários caminhos disponíveis. Como bem observado, os recursos arrecadados com direitos de transmissão são, hoje, a principal fonte de renda para os clubes, mas se não fizeram nada ela se tornará um elemento de prisão para eles.