segunda-feira, 19 de março de 2012

Sem parar 2: Por que não?

Por Leonardo Diniz

A vida é cheia de coincidências e o futebol traz consigo algumas delas. Uma amostra pode ser observada na partida citada na postagem “Sem parar”. Apenas quatro dias após o FC Barcelona golear por 7 a 1 sobre os alemães do Bayer Leverkusen, os bávaros do Bayern de Munique mostrou que aquele placar não era assim tão inatingível e infligiu a mesma pena aos azuis de Hoffenheim.

Talvez fosse desnecessário explicar que o objetivo não é comparar os dois vitoriosos nem afirmar que ambas ocorreram contra adversários com capacidades distintas e por competições com dificuldades também diferentes. Não se discute que, de forma geral, é mais difícil alcançar o feito dos ‘blaugranas’ em fase oitavas-de-final da Uefa Champions League do que fazê-lo pela Bundesliga.

Destaca-se, porém, que, quando uma equipe desenvolve uma mentalidade que ultrapassa o logro do objetivo mínimo da vitória e a célebre soma dos três pontos (pontuação que substituiu os dois pontos concedidos aos exitosos a partir da temporada 1992/1993 de English Premier League), é possível chegar a marcas que agradem seus promotores e o público.

Os comandados de Jupp Heynckes, técnico que se tornou conhecido por levar o Real Madrid ao título europeu e mundial de 1998, poderiam simplesmente ter se contentado com a vitória assegurada sobre seu adversário do último sábado ao fim do primeiro tempo. Após 45 minutos, a equipe de Munique vencia por 5 a 0 e, dado o volume de jogo apresentado até então, qualquer torcedor de ambas as agremiações não poderia imaginar mesmo qualquer volta no marcador.

Mario Gómez marcou quatro vezes na
goleada do Bayern sobre o Basel por 7 a 0
Portanto, não seria surpresa se fossem promovidas alterações, as três permitidas pelo regulamento, a fim de preservar alguns dos atletas para a segunda perna do duelo com os suíços do Basel, agendada para quatro dias depois, na Allianz Arena, em Munique. Mas, aí sim, o que chamou a atenção foi a manutenção das principais estrelas, dentre as quais estão Franck Ribéry, o nome do jogo e autor do sétimo e último gol, e Arjen Robben, que correu durante todo o tempo e ainda foi vítima de inúmeras faltas na segunda etapa. Do trio ofensivo, apenas Mario Gómez foi substituído, em função, no entanto, das dores provocadas por pancada sofrida na primeira etapa.

E tal qual o atual campeão europeu, o Bayern também não tirou o pé na etapa derradeira e partiu para cima dos adversários em busca da ampliação do marcador, que ocorreria antes da metade dessa etapa. O público presente no estádio bávaro teve ainda a oportunidade de rever ótima atuação dos dois pontas da equipe, Ribéry e Robben, na mesma partida e continuar assistindo aos shows de Gómez, que assinalou três tentos naquela tarde.

Alguns poderiam dizer que a suposta sandice de Heynckes poderia comprometer o principal objetivo da temporada, a Champions, afinal sua equipe havia sido derrotada na partida de ida para o líder do Campeonato Suíço por 1 a 0, na Basileia, e precisaria contar com sua força máxima para reverter o resultado desfavorável. A decisão poderia soar ainda mais arriscada, considerando-se que, ainda que o Bayern não tenha feito uma partida ruim no país dos cantões, o adversário foi extremamente eficiente em conter seus ímpetos e o arqueiro do Basel foi impecável na partida.

Pois bem, chegou a partida de volta da competição europeia e, aí sim, mais surpreendente, ‘Super Mario’, alemão de pais espanhóis, comandou a equipe mais vencedora da história do futebol germânico na confirmação do passe às quartas-de-final sem deixar sombras a quaisquer dúvidas. Autor de quatro gols, o que o leva a dez na competição (apenas dois atrás de Lionel Messi e quatro à frente de Cristiano Ronaldo), ele ratificou, mais do que a passagem de fase, que a decisão tomada no fim de semana havia sido a mais correta.

E a corroboração que os atletas deram na concepção de Heynckes de escalar os melhores para disputar tantos jogos forem possíveis é, hoje, mais do que uma simples opção técnica desmedida. Considerando-se os modernos recursos de fisiologia e os laboratórios de biomecânicas existentes e que passam a ser incorporados aos centros de treinamentos dos clubes, há elementos suficientes para se aferir se há condições físicas e fisiológicas de cada um dos escolhidos de entrar em campo e desempenhar sua capacidade em alto rendimento.

As coincidências, como, por exemplo, as duas vitórias por sete gols, não podem ser encaradas também como uma mera obra do acaso. Da mesma maneira, que o futebol dá mais uma mostra de que as razões para o sucesso podem ser visualizadas no resultado, mas não se restringem apenas àquilo que conseguimos detectar à primeira vista. Afinal, o resultado não é tudo no esporte, mas que, ainda que não se faça parte da torcida bávaro, é satisfatório observar mais uma vez que o espírito esportivo e de competitividade mais uma vez esteve nos campos e nas telas para todo o mundo observar.

* Leonardo é jornalista, responsável pelo blog "Norsk A. Angel e os Conversamentos aleatórios" e colabora para este blog.

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