sexta-feira, 9 de março de 2012

Sem parar

Por Leonardo Diniz*

A sede de vencer é inescapável. Essa pode ser uma interpretação da goleada aplicada pelo F. C. Barcelona, na partida de volta das oitavas-de-final da Uefa Champions League contra os alemães do Bayer Leverkusen.

Para os espectadores que acompanharam no estádio Camp Nou e para os telespectadores de todo o mundo que passaram noventa minutos à frente da TV, o ímpeto mantido pelos ‘blaugranas’ durante toda a partida foi uma retribuição mais do que merecida por sua dedicação para acompanhar uma partida que parecia definida antes de seu início.

Com a vitória da equipe dirigida por Pep Guardiola há duas semanas, na Bay Arena, em Leverkusen, por 3 a 1, poucos acreditavam que a classificação dos espanhóis não estivesse assegurada. No entanto, poucos também esperavam que, após Lionel Andrés Messi marcar o primeiro tento do duelo de volta aos 24 minutos da etapa inicial, ele comandaria os azuis-grenás a uma vitória épica por 7 a 1 e, ainda por cima, assinalaria seu nome como o primeiro autor de cinco gols em uma única partida na competição disputada nos moldes atuais.

O mérito da agremiação está justamente em superar um discurso muitas vezes defendido por alguns torcedores e, mesmo por alguns jogadores, de diminuir o ritmo quando sua equipe estiver goleando e garantindo sua classificação ou mesmo um título. A justificativa para essa argumentação é a de que, em caso de estarem na mesma situação, receberão o mesmo tratamento e evitarão sofrer uma humilhação, afinal, dizem eles, todos têm uma reputação a preservar e um futuro que poderia ficar manchado por um fracasso retumbante.

Ao contrário dos que pregam essa ‘camaradagem’, o que se viu no principal campeonato europeu de clubes foi o verdadeiro espírito de competitividade lembrado pelo maior jogador de basquete brasileiro de todos os tempos, o ala Oscar Schmidt. O camisa 14, que participou de cinco edições dos Jogos Olímpicos, sempre que entrevistado destaca a importância de saber vencer e de não facilitar para qualquer adversário para mostrar a eles como vencer é difícil. Schmidt, inclusive, dava o exemplo das disputas com seu filho, seja no futebol de mesa seja nas peladas de basquete, em que, independentemente da diferença de idade e de sua condição de profissional em contraponto ao período de formação no esporte vivido pelo herdeiro à época, ele disputava como se estivesse diante de um oponente qualquer e, claro, sempre vencia.

Na temporada 2011/2012 do futebol nacional e internacional, podem-se observar outros massacres infligidos por tradicionais equipes que não abriram mão de seu potencial ofensivo e de ampliar o resultado obtido até então. Em 23 de outubro do ano passado, os azuis celestes do Manchester City atropelaram seus rivais locais do United por 6 a 1, devolvendo goleada sofrida pelo mesmo placar em 1926. Os ‘Citizens’ aproveitaram a oportunidade de contar com a equipe mais bem organizada desde muitos anos e não desperdiçaram a chance de mostrar que são capazes de provocar turbulências, até mesmo dentro de Old Trafford, casa dos Red Devils.

No mesmo ano, só que no Brasil, também não vai sair das memórias dos torcedores cruzeirenses nem atleticanos a vitória pelo mesmo placar do clássico de Manchester também a favor da porção azul da cidade. Ainda que os teóricos da conspiração, aqueles que sempre aparecem para afirmar que sabiam com antecedência de um plano maquiavelicamente arquitetado nos bastidores, afirmem ter havido uma suposta negociação para a entrega do placar e, com isso, evitar o rebaixamento da ‘Raposa’, o que se pode observar em 4 de dezembro foi uma partida em que as duas equipes não estavam na mesma frequência.

Enquanto os celestes abriram o placar e correram rumo à ampliação do marcador, os alvinegros sentiram o primeiro gol sofrido e, somado a ausência de necessidade maior de vitória para alcançar outros objetivos na competição como classificação, por exemplo, à Copa Sulamericana, não conseguiram assumiram o controle do jogo ou, ao menos, equilibrá-lo.

Esses exemplos são suficientes para que se continue a acreditar que, apesar de inúmeras contradições existentes no esporte e especificamente no futebol, ainda é possível encantar-se com sua magia e acreditar que sempre continuarão a existir os atletas, na mais completa acepção da palavra e que seguem o slogan olímpico cunhado pelo Barão Pierre de Coubertin “Mais forte, mais rápido, mais alto” e, que vença o melhor, e da melhor maneira possível.

* Leonardo é jornalista, responsável pelo blog "Norsk A. Angel e os Conversamentos aleatórios" e colabora para este blog.

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